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05 dezembro 2016

Doe-se.

Ontem eu conheci a Débora, menina negra dos olhos verdes - que nem os da sua tia, que a acompanhava. 9 anos, tem um gato, mas prefere cachorro. Sua irmã se chama Agatha. Débora não sabe ler, mas se encantou pela historinha do Lobisomem da Turma da Mônica, mesmo sem conhecer - ironicamente vestia a camisa da "dona da rua". Disse que eu aparentava 22 anos e que eu era muito bonita, mesmo vestida com um enorme jaleco de manga verde-musgo e luvas - já que a Débora não podia ter contato físico com ninguém. O câncer foi descoberto recentemente através de uma infecção que a mãe achou ter virado caxumba. Aliás, a mãe de Débora ainda não aceita muito bem a situação "a milha filha com câncer? Não é possível". Débora tem lindos cabelos crespos que precisarão ser raspados para o tratamento. Um passarinho nos contou que ela anda sem fome, e na mesma hora ela olhou braba para tia, chateada por ter sido caguetada. Quase não a vi sorrir, e quando sorria, não sei dizer exatamente se ria comigo ou se ria de mim "que moça boba tentando me animar". E, de verdade, não importa, pois o olhar de Débora pra mim já falava muito mais.
João Vitor tem 12 anos, branquinho, careca e possui 2 irmãos e 1 irmã - que nem eu. Perguntei se gostava do natal e me respondeu que sim, mas que iria passar ali. A mãe respondeu correndo que não, e ele desanimado falou "vou, mãe, tem o resto do tratamento". João me aparentou bem ciente da sua situação. Mas ainda assim, com sorrisos tímidos, conversou bastante conosco. Sua comida preferida é batata-frita e tá louco pra ir para a casa e poder comer a comidinha da mãe - ele disse que ela cozinha bem. Adora jogar futebol e vídeo-game. No vídeo-game, quando joga futebol, prefere o Barcelona e disse que sempre vence. Não duvido muito, pois João Victor irá receber alta na terça. Ele já é um vencedor.

Érica tem 2 anos, loirinha do cabelo liso e olhos azuis. Estava com a sua mãe que não aparentava ter mais de 20 anos. Érica se interessou pelo livro das princesas, no qual só haviam vestidos e sapatos para destacar; por um álbum de figurinhas de futebol incompleto; e por um livro de bichinhos que ficava com os olhinhos mexendo, esse foi o seu preferido. A pele dela é bem branquinha, o que permite que vejamos todas as marcas roxas que as agulhas deixaram, porque há mais de um dia não encontram a sua veia. Isso fazia jus ao pavor que ela sentia da enfermeira. Já o palhaço que estava com a gente criou um sentimento de amor e ódio na menina: se ele chegava perto ela chorava de medo, mas se ele ia embora ela chorava também - imagino que de saudade. Teve uma hora que ela ficou em pé na cama e correu pra cima de mim: estava contente, um monte de gente ali, ria sem parar.
Essas são 3 das várias crianças e 1 jovem que eu conheci ontem e que estão internados no HemoRio. Todos tem câncer. A única diferença entre eles é o tempo em que irão ficar ali - uns chegando e outros indo. Quando eu estava subindo o elevador do Hospital, achei que fosse me acabar de chorar, mas não derrubei uma lágrima. Quando você vê aquelas crianças sendo tão fortes, você não se sente no direito de sofrer. Ou melhor, você não quer sofrer, quer apenas transbordar amor, oferecer palavras de conforto e irradiar sorrisos e brincadeiras. Espero que todos saiam logo dali e voltem para as suas casas com aqueles que os amam - e pela porta da frente. E se eu dei algo pra eles aquela tarde... Bem, pode ter certeza que eu ganhei muito mais! Por isso eu digo: façam trabalho voluntário, seja em orfanato, hospital, escola, com criança, adulto ou idoso. Vocês nunca mais serão os mesmos!